Meses atrás provocamos nossos vizinhos a escreverem uma carta, uma mensagem, para as árvores que admiram, que cruzam os seus caminhos, que embelezam e acolhem passarinhos nas praças, que fazem sombra em suas calçadas, que oferecem um deleite para seus olhares.
E por qual razão fizemos esse convite? Porque precisamos das árvores mais do que nunca. Seja por questões socioambientais, seja porque são maravilhosas, as admiramos e as queremos bem.
Aqui vão trechos das declarações de carinho e cumplicidade que recebemos. Já contou pra sua árvore preferida o quanto ela é importante pra você?

Carmen – Flamboyant
“Meu querido flamboyant! Como você cresceu desde que te conheci! Cada dia mais belo, com seus galhos frondosos, nos proporciona sombra e cria um refúgio sob sua copa. Essa placa de não estacionar, se refere a você? Ao seu crescimento? Ou aos transeuntes que não devem parar para te olhar porque você está num cruzamento bem movimentado? Gostaria de saber a razão do seu querer, do seu viver.”
Carolina – Pata de vaca
“Querida pata de vaca, obrigada por estar aqui, dando sombra, limpando o ar e embelezando a rua, antes mesmo de a minha família chegar. Sou muito feliz por você ter resistido a uma poda radical da prefeitura, às ondas de calor do verão e à seca do inverno, sempre nos protegendo com sua folhagem, espalhando suas vagens e alegrando nossa chegada com flores rosas. Conseguimos abrir um pouco mais o seu berço para te desafogar, espero que tenha ajudado. Gostamos demais de sua tranquila e benéfica companhia”


Cecília F – Cisalpina
“Oi linda Cisalpina na janela do meu quarto, eu te acompanho desde quando você era pequenina com 1,5m de altura, depois você foi crescendo e deitada na minha cama eu podia ver sua coroa de folhas. Agora passados tantos anos nos vemos de qualquer lugar da janela. Você sabe como te amo e acompanho o seu desenvolvimento e toda manhã agradeço sua presença. Fico preocupada porque, quando você se for, plantarão outra em seu lugar?”
Cecília L – Jabuticabeira
“Você foi plantada na entrada da Dona Rosa em 2011, antes mesmo da pizzaria existir — estávamos ainda reformando a casa, sonhando com tudo o que poderia ser. Quem te trouxe foi a Mari Soares, amiga querida e paisagista sensível. Desde então, você cresceu junto com a nossa história.
Te escolhemos com carinho, por muitos motivos. Além do afeto pessoal, você é uma árvore nativa da Mata Atlântica, e seus frutos alimentam tantos seres: insetos, aves, crianças, adultos. Você ajuda a manter a vida ao seu redor — e é exatamente esse espírito que queremos cultivar por aqui também.
Você dá muita jabuticaba, mas quase nunca sobra: quem passa colhe no caminho, e assim você alimenta tanta gente. Suas flores são banquete das abelhas jataí que vivem ali pertinho. As crianças vivem ao seu redor — às vezes usam seus frutos verdes pra brincar de guerra. Quando vejo, me aproximo, converso, explico que ainda não amadureceram, que precisam de tempo. E mostro outros jeitos de brincar.
Você já viu tanta coisa por aqui… E segue firme, generosa, linda! Que continue crescendo com força e leveza, eu estarei sempre por perto, cuidando de você, como você cuida da gente. Com todo o meu carinho, Cecilia.”


Ciça – Paineira
“Paineira querida, olhar pra você agora, cheia de frutos, me enche de alegria. Ainda lembro quando estava toda florida, lá no alto, mais alta que todas as outras árvores — chamando atenção com aquele rosa impossível de ignorar. Agora você tá diferente, mas não menos bonita. Seus frutos estão prontos, e daqui a pouco vão se abrir, soltando aqueles flocos de algodão que saem voando e encantam quem passa. Que presente! Será que dava pra ser mais linda? Acho que não. Ou talvez sim, do seu jeito de sempre surpreender. Com carinho, Ciça.”
Cisele – Ipê Rosa
“Meu querido Ipê Rosa. Nesses anos todos de convivência, você só me deu alegrias por sua postura altiva e a beleza de suas folhas. Muita gente reclama da “sujeira” que você faz, não entende que você precisa cumprir seu ciclo, perder as folhas, as flores e as sementes, cada uma em seu tempo, para sobreviver e nos encantar. Só tenho dó de você quando jogam lixo nos seus pés, te desrespeitando e, quando muito cedo, as maritacas vêm chupar a seiva de suas flores em grandes bandos, tirando seus brotos que ainda iriam abrir, mas acho que faz parte do ciclo natural. Fico preocupada quando dá flores em duas vezes ou quando antecipa para agora, será que as mudanças climáticas estão te afetando? Espero que nossa convivência te fortaleça e que quem passe por você te admire e te proteja”


Cris – Ipê Branco
“(…)Vi que tudo que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel. Só o que não vira sucata é ave, árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial. Peço desculpas por cometer essa verdade.” Manoel de Barros, no texto Sucata, do livro Memórias Inventadas: A Infância. Com amor, Cristiana”
Eiko – Pau fava (Praças Rafael Sapienza, das Corujas, João E. Faggin, Vicentina de Carvalho e Rua Senador C. L. Vergueiro)
“Olá! Não tenho árvore preferida. Plantei muitas espécies da Mata Atlântica. Se desenvolvem, viram queridinhas. É como a frase: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. O mais importante é fazer o manejo e acompanhar cada árvore e cuidar ad eternum. Eliminar as exóticas e invasoras que estão perto. Arrancar mato. Ancorar no suporte quando está torta. Cobrir o canteiro com composto. Regar na época seca. Remover o lixo. E encantar-se em todas as estações do ano. A Sena ou Pau Fava é árvore indicada para a praça. Tem crescimento rápido, sistema radicular do tipo axial e profundo. Flores que duram 3 meses, de novembro a fevereiro. Vagem com sementes de fácil germinação. É a preferida das mamangabas.”


Eliana B. – Plátano
“Sempre gostei das suas irmãs, por onde andei. Agora tenho você vizinho, que vejo sempre no meu caminho. Neste momento em que você se despe das folhas lindas, mostra sua nudez de alma imponente, alto se deixando ser admirado por quem tiver olhos de ver, nos mostrando que chegamos no outono e aquelas folhas não lhe servem mais. Precisa se renovar. Ao mesmo tempo, as folhas espalhadas pelo chão formam um tapete maravilhosamente colorido com tons tão diversos, tamanhos distintos que não me canso de admirar e imaginar obras de arte com este espetáculo da natureza. Te admiro! Com sua altura (30 a 40 m) nos olhando do alto e marcando sua presença. Continue assim, firme nos encantando com sua beleza e ensinando que também nós humanos precisamos nos renovar para continuar nossa trajetória.”


Fábio – Mamoeiro
“Olá, amigo mamoeiro de todos os dias, bom dia, boa tarde, boa noite!
Flávio – Grumixameira
“Grumixameirinha querida, adotamos você em 2015, no berçário do CEAGESP, quando também conhecemos um irmão de raiz que cresceu ao seu lado: um ipê branco, adotado na mesma época pela nossa vizinha. Tudo o que sabíamos sobre você estava naquele Manual Técnico de Arborização Urbana, onde lemos que chegaria a medir de 8 a 12 metros, com caule entre 25 e 40 cm. Achamos até engraçado que constasse que você seria globosa e perenifólia. Dadas as suas características, apesar da vontade, não a trouxemos para dentro da sala, mas sim para a calçada, onde a vemos crescer dia após dia. Embora sempre a chamemos pelos seus frutos, seu verdadeiro nome é Eugenia. Eugenia Brasiliensis, que traz o vigor da Mata Atlântica e a doçura da natureza brasileira. Sua vasta cabeleira de folhas verdes e brilhantes é um espetáculo, aparada apenas de vez em quando para abrirmos o portão. Isso, no entanto, em nada diminuiu a sua vaidade, já que você se orgulha de produzir as suas delicadas florzinhas brancas, que também achamos lindas. Sem ficar convencida, saiba que seus frutos são verdadeiros tesouros vermelhinhos, que lembram jabuticabas, adoçando a vida de visitantes, vigias da rua e de todos que têm a sorte de encontrá-los. Apreciamos muito a sua presença silenciosa, porém essencial. Sob a sua sombra, o tempo parece desacelerar. Que você continue crescendo forte e saudável, espalhando vida e esperança para as futuras gerações. Com muito carinho, meu e da Rosa.”

